terça-feira, novembro 27, 2012

Relojoeiro...



Menininha: O que você tanto olha para o relógio?
Menininho: Shii! Estou procurando...
Menininha: ...
Menininho: ?
Menininha: Achou?
Menininho: Ainda não!
Menininha: ...
Menininho: ...
Menininha: Falta muito?
Menininho: Não sei... Posso ver seu relógio?
Menininha: Pode.
Menininho: Hmm... Também não tem...
Menininha: ?
Menininho: ...
Menininha: O quê que não tem no meu relógio?
Menininho: A hora "H".
Menininha: ?
Menininho: Me disseram que quando chegar a hora "H" tudo vai dar certo, então quero saber quando ela vai chegar. Só que não consigo achá-la em relógio algum...
Menininha: Mas você é muito bobo mesmo...
Menininho: Pelo menos eu estou procurando...
Menininho: ...
Menininho: E você?
Menininha: O que tem eu!?
Menininho: Porque anda com esse coração na mão?
Menininha: Para que não se perda por aí...
Menininho: ...
Menininho: Não seria melhor entregar a pessoa certa?
Menininha: ...
Menininha: E como saber quem é a pessoa certa?
Menininho: Hnnn...
Menininho: Acho que a pessoa certa vai saber... 
Menininha: ...
Menininha: Vai?
Menininho: Uhum...
Menininho: ...
Menininha: Você complica demais!
Menininho: Uhum...
Menininho: Agora você responde a minha pergunta... 
Menininha: Hnnn... Que pergunta?
Menininho: ...
Menininho: Como demorei tanto para te encontrar?
Menininha: Não sei... Você demorou?
Menininho: Não sei...
Menininha: ...
Menininho: As vezes parece um instante, as vezes parece a eternidade...
Menininha: Você conhece a eternidade?
Menininho: Não...
Menininha: Então como pode lhe parecer a eternidade se você não a conhece?
Menininho: Eu imagino. Assim como talvez eu já tenha te imaginado, fazendo parecer que te conheço a tanto tempo.
Menininha: Mas acabamos de nos conhecer...
Menininho: ...
Menininha: ...
Menininho: Talvez já tenha se passado um instante suficiente para que eu imagine toda a eternidade em que poderíamos viver, ou ainda pode ser que tenhamos toda a eternidade para aproveitar os instantes que virão...
Menininha: É, talvez estes instantes durem toda a eternidade.
Menininho: Talvez a eternidade dure em todos os instantes...
Menininha: ... 


sábado, novembro 24, 2012

Essência do fim



Então amigo...
Quando foi que isso começou?
Certamente é bem mais fácil lembrar-se do inicio.
O meio, o intervalo entre o principio e o fim, esse é que nos custa lembrar.

Não porque seja de todo ruim,
Não é...
Nem que esteja fora do alcance da reminiscência...
No entanto...
É precisamente aí que nos pegamos desamparados,
Lutando para esquecer tudo aquilo que nos custou conquistar.
Cada momento único...
Que em sua síntese já valeria uma vida plena.

Cada detalhe ínfimo.
Cada mistério...
Cada sorriso de canto de boca
Cada suspiro e frio na barriga
Cada olhar direcionado ao nada
Cada pensamento que gostaríamos de escutar
Cada alvitre protegido em um canto seguro na memória
Que agora deverá ser evitado...
Mas de quem é a culpa amigo?

Não creio que seja possível apontar culpados.
Por vezes as coisas são perfeitas na totalidade do instante,
Na efemeridade do eterno.
Somos volúveis de fato.
Não necessariamente ruins...
Não necessariamente mal intencionados...
Não totalmente convictos
E nem tão pouco incrédulos.
Somos um instante onde tudo faz sentido
Envoltos por um infindável ciclo de incertezas... 


Amigo!
Nem a morte pode te fazer distante.
O clico da natureza está falhando.
Eu posso te ver!
As lagrimas derramados foram em vão,
Os sonhos desfeitos agora podem ser renovados
O clico se rompeu...

A vida não é mais o prenuncio da morte
Nem alma a essência da vida
Nem os sábios são os mestres da verdade
Nem os tolos são inguento da mentira.
Nem é possível dizer quem está certo agora
Ou quem esteve errado no passado.

Tudo se encontra perto do princípio
Tanto quanto perto do final.
Toda a realidade se monta a nossa volta
Em um ciclo que se comprime, contrai e dilata...
Revelando-nos todos os segredos...
Todos os mistérios...
As repostas para as questões mais profundas
Abruptamente, diante do ultimo suspiro...
Um olhar...
Um sorriso...
Não exatamente em vão
Não necessáriamnete benéfico
Nem tão pouco desnecessário...
Um segundo...
Um instante eterno...
Sem lagrimas...
Sem arrependimentos.
Sem passado.
Sem futuro.
Sem nada.

sábado, novembro 17, 2012

O trapezista.



Menininha: Porque você me ama?
Trapezista: Porque te amar é muito fácil.
Menininha: Fácil?
Trapezista: Sim... Fácil assim como amar algo que se procura por toda uma vida.
Menininha: ...
Menininha: E o que você encontrou em mim?
Trapezista: Aquilo que eu procurava. Uma zona livre de desequilíbrios...
Menininha: ...
Menininha: Imagino que desequilíbrio não seja algo bom para um trapezista.
Trapezista: Não é. Por isso você é importante pra mim.
Menininha: Isso faz de mim um trapézio?
Trapezista: Não. Faz de você tudo.
Menininha: ...
Menininha: Tudo é muita coisa.
Trapezista: É...
Menininha: E o que você espera de mim.
Trapezista: Nada, apenas que você não fuja
Menininha: ...
Menininha: E se eu fugir?
Trapezista: ...
Trapezista: Bem não sei até onde posso te seguir.
Menininha: ...
Menininha: Você desistiria?
Trapezista: Não...
Menininha: ...
Menininha: Por quê?
Trapezista: Porque não posso desistir de tudo.
Menininha: ...
Trapezista: ...
Menininha: Verdade...
Menininha: Quando começou a se sentir assim?
Trapezista: Assim que soube que você existia...
Menininha: Como soube?
Trapezista: É aquele tipo de resposta que se consegue quando você para de se perguntar...
Menininha: Hunnn ...
Menininha: O que eu devo fazer?
Trapezista: Apenas aquilo que você quiser.
Menininha: Eu tenho medo.
Trapezista: Eu também.
Trapezista: ...
Menininha: ... 
Menininha: Tem medo de mim?
Trapezista: Não...
Trapezista: Eu tenho medo de despencar.
Trapezista:: ... 
Menininha: Eu não quero que você despenque.
Trapezista: Eu sei...
Menininha: Então não suba até onde eu não possa ter certeza de que você não irá cair...
Trapezista: Há como ter certeza?
Menininha: Não sei, mas não quero que você se arrisque.
Trapezista: Já estou me arriscando!
Menininha: ... 
Menininha: Acho que eu também.
Menininha: ... 
Menininha: E o que isso quer dizer?
Trapezista: Que já caímos uma vez, e por isso já sabemos o que não fazer...
Menininha: Então não vamos cair?
Trapezista: Não, se depender dos meus braços para te segurar...

Texto e arte Deyvid Benner.

domingo, novembro 11, 2012

PENUMBRA.





Olá, hoje trarei um texto não tão bem humorado, e conseqüentemente talvez também não tão atrativo.Um texto motivado por um dia estranho, concebido em meio a sensações estranhas. Neste dia que escrevo me sinto um tanto quanto deslocado. Um tanto quanto confuso. E é sobre essas sensações que irei escrever hoje.

Para entender como me sinto (se é que isso é relevante) e para entender também o significado desse texto, é preciso antes entender o termo que dá titulo a este artigo: PENUMBRA...

Esse termo é a analogia mais aproximada que encontro para elucidar meus sentimentos, pois diferentemente da sombra, a penumbra trata-se de um ponto de transição entre a luz e a sombra. Imagine um corpo sendo iluminado por uma fonte de luz extensa, ou seja, não puntiforme. Desse acontecimento teremos regiões que não serão atingidas pelos raios luminosos, são as sombras, e regiões que serão atingidas por apenas alguns raios de luz, essa é a região de penumbra. O meio termo entre a luz e as trevas, O CINZA. Algo complexo de ser definido ou analisado. Algo inconstante. Tenho me tornado penumbra, não pela minha própria natureza, mas em função da natureza a qual tenho sido exposto.

Então vamos aos motivos que creio que tenham me levado até esse tema.

Como eu disse, hoje foi um dia estranho. Hoje senti calafrios. Fiquei tonto. Minha boca ficou salivando como se eu estivesse me preparando para vomitar. Fiquei desorientado, como quando na única vez que desmaiei. Logo percebi que esses sintomas não tinham nenhuma causa externa, ou melhor, pelo menos nenhuma tangível. Conversava com alguém enquanto olhava pra baixo e pensava: “será que estou morrendo?”. Senti vontade de correr, ou de simplesmente de dizer que estava passando mal. Mas não tive fôlego, e esperei que a pessoa em questão percebesse que eu não estava bem. Mas nada aconteceu. Eu não fiquei melhor, dei um tempo e me senti bem o suficiente para sair dali. Fui andando sozinho, me dei conta que estava sem camisa, sentei em um lugar não necessariamente adequado e comecei a pensar. Ignorando o fato de que minha lucidez poderia ser colocada em questão, baixei a cabeça e comecei a refletir sobre questões intrínsecas ao meu eu, e percebi de onde vinha o meu mal estar.

Eu percebi que eu estava divido. Percebi que eu era uma penumbra, por assim dizer, por não conseguir me adequar ao que me era imposto. Por não fazer parte do meu meio e por sofrer as conseqüências disso.

Existem coisas com as quais não tenho conseguido lidar. Principalmente se tratando de pessoas. Uma vez ouvi que é muito difícil amar as pessoas apesar delas. Ou seja, é um desafio amar as pessoas, sendo elas como são. E isso tem se mostrado verdadeiro em minha vida. Tenho visto uma dualidade absurda nas ações das pessoas que me cercam. E isso paulatinamente tem me feito perder o interesse em lidar com essas pessoas...

Às vezes queria conhecer as pessoas o suficiente apenas para não sentir nojo. Tenho sentido um nojo generalizado. Um nojo tão forte que me dá náusea e que não me deixa estimulado a interagir...

Este é um sentimento cíclico, pois já estive diante dessa mesma questão, e foi um tempo difícil, onde me isolei o quanto pude e lastimei mais ainda. Tenho me decepcionado com a hipocrisia que me cerca. A hipocrisia de um pai que vai a Igreja todo o Domingo, e que no dia seguinte me pede para baixar vídeos pornográficos com os mais altos níveis de perversão... A hipocrisia de mulheres que falam sobre respeito e valorização, mas que vivem em função de homens que as traem e as maltratam. Cenas abundantes de traição em meu ciclo familiar... Homens casados que saem com mulheres e com outros homens e conseguem vincular isso a masculinidade. Mulheres que sabem disso e se mostram omissas. Tudo aos olhos da próxima geração. As filhas e filhos de hoje que veem nisso uma normalidade deprimente, e que com certeza, não tardarão a repetir o mesmo...

Eu não sou puritano. Não sou perfeito. Não tenho um guia de como ser um ser humano limpo e integro, se é que isso tem algum significado. Mas me recuso a aceitar nessas situações que me cercam a normalidade da natureza humana. A conformidade de uma vida dirigida de forma hedonista. A vulgaridade de pessoas que cobram atitudes nobres e vivem no meio da lama, em situações tão nojentas que me faz querer vomitar...
Não tenho conseguido separar o lado bom e o lado mau das pessoas. É triste não pode fazer nada. Queria simplesmente ignorar isso tudo, curtir minha família e admirar meus pais e amigos incondicionalmente. Mas não consigo, e isso me afeta.

Queria poder subsidiar meu texto com mais exemplos, e com isso, consequentemente, elucidar melhor a compreensão dos vocês, mas isso seria expor demais pessoas que apesar de serem como são, ainda me fazem as querer bem...

Sinto que não posso julgar o mundo com base em minhas premissas morais. Sinto que não posso afastar as pessoas por constatar que nem de longe elas são perfeitas. Mas pra variar, queria lidar com mais que um punhado de pessoas pelas quais consigo exercitar algum tipo de admiração. E pra essas eu sempre tento deixar o melhor de mim...


Pessoas são binômios. Vivemos em um constante estado de conflito. Conflito entre aquilo que parece conveniente, entre aquilo que parece correto, ou até mesmo aquilo que tenta de maneira quase utópica conciliar as duas questões.  As pessoas nos fascinem e nos decepcionam com a mesma facilidade. Tenho me decepcionado bastante. Tenho confiado pouco e me aberto menos ainda. Não por que eu não queira, é que a inconstância das pessoas me desestimula a um ponto de eu não querer mais interagir...

Nesse ultimo ano tenho experimentado os dois lados de um vértice de luz. Hora do lado mais bem iluminado, e que pode ser considerado o bom, outra hora, do lado mais obscuro. Puxado às vezes, outras vezes empurrado, ou as vezes, apenas escorregando. Mas eu sei por onde seguir. Eu sempre soube qual era o meu caminho. Embora em alguns momentos pessoas tenham me feito desabar e duvidar daquilo que eu era, outras surgem e me mostram que eu não estou exatamente sozinho, e que o caminho que se estende pelas sombras, apesar de mais fácil, não rende os resultados daquele que se estende em meio penumbra. Iluminado o suficiente para que possamos apreciá-lo, mas não tão claro ao ponto de nos cegar.