sábado, julho 16, 2011

Não vejo, não ouço, não falo e não me importo!

Olá, tudo bem?

“Fico me perguntando se alguém realmente se importa com isso”

Não sei ao certo se desejo que vocês estejam bem, pois quando estou meio pra baixo, e eu sempre estou meio pra baixo, a felicidade alheia me incomoda bastante. De um modo geral, quando estou assim, qualquer esboço de felicidade me atingi diretamente. Talvez porque a felicidade dos outros de alguma forma acaba ferindo meu ego.

Não sei quanto a vocês, mas quando eu estou triste, a felicidade dos outros é como um funk no ultimo volume pra mim. Parece que só o fato das pessoas não serem afetadas diretamente pelo meu estado de espírito, isso acaba me deixando com uma sensação de insignificância. A sensação de que o mundo e as pessoas que nele vivem funcionassem perfeitamente, não importando se estou triste, feliz, vivo ou morto. Nossa vida, na maioria dos casos, gira em torno de um ínfimo universo, onde apenas um pequeno punhado de pessoas estão solidarias a nossa situação. Essa efemeridade humana, ao mesmo tempo em que me entristece me fascina.

Confesso que quando estou triste as mesmas coisas que costumam me deixar feliz, me deixam mais triste ainda. Sendo assim, imagino que para que as coisas que me deixam feliz não me deixem triste, devo me concentrar nas coisas que me deixam triste, para que eu fique feliz com minha tristeza...

Compreende?

Não?! Pois deveria, rum!

Um exemplo de coisa que costuma me deixar mais triste quando estou triste: é quando eu estou voltando da faculdade e encontro casais namorando nas praças, ruas, vielas, carros, panelas de pressão, redes de alta voltagem. Enfim, nem consigo descrever a raiva que tenho dessas pessoas sem senso de privacidade que me obrigam a ter que ver e invejar uma realidade que atualmente não é a minha. Minha vontade e chegar e perguntar se eles não desejam um quarto de motel. Onde já se viu isso? Onde é que esse mundo vai parar?

Cherss!!

Deixando todo esse sarcasmo de lado, parece que quando estamos tristes, sempre tem aquelas pessoas que estão estupidamente felizes, dizendo que a vida é bela e não há razão para ficar triste.

blá blá blá...

Poxa, tudo bem que a vida seja bela, mas ela não é apenas isso! Vai dizer isso a uma criança subnutrida na Nigéria ou a um desabrigado morrendo de frio nas ruas São Paulo. A vida não é bela para todos. Ela não é bela todo o tempo. E digo mais, para que vida seja apenas bela para alguém, esse alguém tem que sofrer de sérios transtornos mentais.

Geralmente o tipo de pessoa que diz isso, define a vida da maneira mais simplória possível. Talvez porque nunca para pra pensar seriamente sobre ela. Fico imaginado se essas pessoas seriam assim, se as indagações existenciais dessas fossem algo além de: “Há! Mais com que roupa eu vou sair hoje?" Ou “Será que aquela menina que ficar comigo véi!?” Ou ainda, “Eitá menina! Viu o final da novela?“.

De algum jeito que eu não sei bem qual é, existem pessoas que, aparentemente, não se importam com nada além do que foi descrito. Juro que eu queria ser assim: desapegado e despreocupado, mas simplesmente não consigo. Sempre estou preocupado com algo muito além de mim. Sempre me aborreço com questões do passado, do presente, até o futuro me aborrece. Sempre me aborreço com a capacidade das pessoas serem estúpidas, preconceituosas e hipócritas. E nosso mundo está cheio de pessoas assim. Talvez por isso eu esteja sempre aborrecido.

Falando assim parece que tudo me aborrece, mas isso não é 100% verdade. (risada sádica)

Poxa, mas falando sério, parece que quanto mais "desligada" é a pessoa, de alguma forma, mas feliz ela é. Será que esse tipo de felicidade vale à pena? Imagino que é impossível existir uma pessoa totalmente desapegada de preocupações. Todos nós nos preocupamos com algo. No entanto, percebo que a maioria das pessoas não se preocupam com quase nada além de si mesmas.

Aí você me diz: “Mas como assim? Me explica essa história direito porra!”

Calma, calma eu vou explicar. Mas primeiro abaixa essa arma... Isso, isso, com cuidado... Pronto, agora me deixe continuar...

Coff, coff.

Bem, de maneira simples, percebo que maior parte de nós não enxerga o mundo de maneira universal. A maioria de nós não pensa no conjunto, se foca apenas em si, em seu ego, naquilo que lhe é conveniente. Como se o mundo girasse apenas em torno si, e nada além de sua felicidade individual importasse. Percebo que esse tipo felicidade muitas vezes requer que ignoremos as coisas ruins que estão acontecendo a nossa volta. Essa felicidade requer que fechemos os olhos para com as coisas “feias” do mundo.

Porque perder tempo se preocupando com algo que eu não posso mudar? Pois é, mas eu perco. O fato de eu não conseguir fazer algo para mudar uma realidade que está além de mim, não significa que eu não possa me importar com ela.

Em um mundo onde 1% da população controla 40% da riqueza do planeta. Em um mundo onde 34 mil crianças morrem diariamente de fome e doenças evitáveis; e onde 50% das pessoas vivem com menos de 2 reais por dia, uma coisa fica bastante clara: algo-está-muito-errado.

Eu tenho me importado com muitas coisas em minha vida, e a maior parte delas está além de mim. Além de qualquer um eu diria. Mesmo assim, meu idealismo (que muitas vezes me distancia das pessoas) me fez querer mudar certas coisas nesse mundo, e de fato, eu sempre estou querendo mudar algo.

Gostaria de mudar, por exemplo, nosso sistema político alienador. Sobre tudo nas pequenas cidades, onde uma boa gestão política é medida pela qualidade das festas que foram organizadas durante o ano. Gostaria de mudar a negligência a respeito da educação, onde as coisas parecem funcionar semelhantes à era passada. Onde a ignorância causada pela defasagem educacional, apenas contribui para perpetuação de uma hierarquia de: "dominador x dominado." Gostaria de mudar a política do pão e circo, que insiste em ser a mais eficiente desde que inventaram a política. Gostaria de mudar as pessoas que são cegas e omissas quanto a isso tudo. Gostaria de mudar a maneira com a qual veneramos a TV, como se ela fosse à porta voz da razão. Ela é sim uma porta voz, mas da alienação e dos interesses da corporocracia, que aplicam o consumismo institucionalizado. Me preocupo muito com essas e com tantas outras questões. E me preocupo mais quando sei, que a absoluta maioria das pessoas não estão nem aí pra isso.

Tem sido muito mais importante por exemplo, acompanhar o capitulo da novela, saber quem vai ficar com quem em malhação ou ainda, quem será o próximo líder do BBB.

Isso tudo faz com que eu fique sempre distraído. Faz com que eu me sinta deslocado. Como se eu estivesse vivendo numa era atrasada. Como se toda evolução tecnológica conquistada até aqui, não passasse de uma desculpa para justificarmos que a humanidade evoluiu em algum aspecto. Vejo que o homem não mudou muito desde seu surgimento. Ele ainda continua sendo, primitivo, hostil, competitivo, brutal, acumulador e constituiu uma sociedade baseada nesses termos. Quanto menos você se importar com isso tudo: melhor será para quem governa tua vida. Quanto mais distraído você estiver: mais fácil será te manipular sem que você se der conta. Quanto mais seguro da liberdade você estiver: mas fácil será fazer com que você se torne um boneco que rir, pula, dança, escuta, acredita e não faz nada além de pensar em como ser mais patético e manipulável.

"Ninguém é mais escravo do que aquele que se julga livre sem o ser."
(Goethe , Johann)

Gostaria que as pessoas começassem a pensar nas coisas de maneira mais universal. Talvez só assim comecem a se tornar mais criticas sobre o mundo que nos cerca e as instituições corrompidas que nos governam.

Estamos vivendo numa sociedade permeada por instituições cuja absoluta maioria das pessoas desconhecem suas funcionalidades. Temos convivido com instituições políticas, legais, religiosas; Instituições de classes sociais, valores familiares e de ocupação profissional, sem que saibamos mensurar a importância destas no desenvolvimento de nossa sociedade e na formação do nosso caráter. É impossível ignorar a influencia que essas estruturas tradicionais exercem em nossa sociedade. Assim como é impossível ignorar a ingenuidade das pessoas a respeito dessas.

Existem coisas das quais não temos nos dado conta. Temos olhado o mundo de maneira simplista e não somos capazes de enxergar nada alem do óbvio. Aceitamos todas as doutrinações religiosas, políticas, sociais e econômicas como se a vida só fosse possível baseada nesses termos. Não tentamos conhecer mais profundamente nosso mundo, pois qualquer assunto que não seja o que nos agrada é constantemente visto com tédio e descaso. Simplificando: a absoluta maioria de nós não está interessada em se libertar dos charcos da alienação.

Aí você diz: “Há... Que cara mais chato. Vai morar numa cabana no meio da floresta se não gosta do mundo. Vai!”

Calma pequeno gafanhoto, calma...

Não digo que devemos ficar obcecados com isso tudo, ou que devemos sair acreditando em teorias de conspirações. Ou ainda, que devemos abrir mão do nosso estilo de vida em nome da cura do mundo. Não, não é isso que quero que aconteça. Continue assistindo novela, MTV, malhação, BBB ou seja lá o que for que você goste, mas não se esqueça de questionar. Questione tudo. Interrogue tudo que não estiver suficientemente bem esclarecido. Não se limite apenas em aceitar tudo que lhe é exposto. Vença suas superstições, seus medos, seus tabus. Vença seus preconceitos, intransigências e sua alienação. Busque a verdade por trás das coisas, pois essa vos libertará.

Devemos estar cientes de uma coisa muito importante: quanto mais nos aprofundarmos naquilo que julgamos conhecer, de onde viemos, aquilo que fazemos, começaremos a entender que estamos presos. Que estamos limitados pelas mesmas pessoas que governam sua vida e sua educação corrupta. Quanto mais você se educar, mais irá questionar e começará a compreender as origens disso tudo. Mais obvias se tornarão as coisas e mais fácil será enxergar todas as mentiras que nos tem sido apresentadas como verdades inquestionáveis.

Enfim, por hora é isso. Agradeço a quem conseguiu ler até o fim.

Até um próximo texto...


Quem desejar se aprofundar nas questões expostas no texto recomendo:

Video:


(Documentário polemico proibido em vários países do mundo, inclusive no Brasil).


(Documentário Inglês, sobre a Rede Globo de televisão, que mostra como ela vem manipulando diversos aspectos políticos da sociedade brasileira).


(Documentário feito para a televisão inglesa, escrito e apresentado por Richard Dawkins, que tem como foco demonstrar a desnecessariedade das religiões, evidenciando possíveis vantagens para a humanidade advindas de sua inexistência).

Leitura:


(Excelente obra de Carl Segan um dos maiores contribuidores para a disseminação do saber científico em todos os tempos)

Online:


(Ótimo site, que exerce um trabalho extremamente sério, desmistificando vários tipos de superstições de nossa sociedade)

3 comentários:

Krisna disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Krisna disse...

Ótimo texto!

A sociedade, em síntese, condena-se a uma vida alegórica cheia de hipocrisias e individualismo oculto.

Da religião à política, quase todos (ou todos) almejam algo em comum: a ascensão social e "espiritual" individual, não importando quantos serão sucumbidos.

Se há milhares de anos atrás, as coisas eram assim, acho muito pouco provável que em nossa insignificante existência tudo se transforme.

Enquanto isso, as oligarquias continuarão e as ameaças por parte de religiosos radicais de que iremos para um inferno hipotético por sermos ótimos cidadãos de bem que não seguem uma religião e não acreditam em uma força mítica maior ainda existirão por muito tempo.

"E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará." É sarcasticamente usando essa "granada sem pino" da bíblia que termino esse comentário.

D. Novaes disse...

Tão bom quanto meu texto foi seu comentário.

Embora eu acredite que seja o caso de um "problema" sem solução, pois o "mal" está tão enraizado na mentalidade da humanidade, que qualquer mudança séria vista como um retrocesso intolerável. A maioria das pessoas mantem-se alheias a esses problemas, porque nada sabem sobre isso tudo.

O engraçado é que quando abro um livro de História eu sempre encontro algum absurdo inerente ao comportamento humano. Eu olho pra aquele absurdo e penso "Quanto tempo levamos para mudar isso? Geralmente as mudanças surgem em momentos de crises, no bojo da desgraça generalizada. Aí eu me pergunto é isso que estamos esperando? Espero que não, pois não vai demorar muito, e as pessoas olharão pra traz e irão dizer: "Que povo mais primitivo eram esse nossos antepassados"

Conhecimento é o primeiro passo para mudar toda merda do mundo, é isso que, em suma, devemos buscar.