sábado, dezembro 10, 2011

Nunca transei tanto!!!




Olá!!

Antes que achem que eu "traí o movimento" e lancei por terra todos meus argumentos sobre "amor verdadeiro”, "pessoa certa" e virei um depravado ninfomaníaco, devo avisar que o titulo deste artigo não diz respeito a algo que eu tenha feito. Bem, até poderia ser usado para se referir a mim, mas com certeza, apenas como uma forma de ironizar minha atual situação sexual.
...

Fazer o que?

Para ser mais especifico, este titulo remete uma conversa que eu tive com uma colega, uma pessoa que infelizmente tive a oportunidade de acompanhar a decadência, principalmente no que se diz respeito a questões morais. Sendo assim, é sobre questões morais que irei escrever hoje.

Neste artigo, tentarei, junto com vocês, chegar a uma resolução saudável sobre os limites entre: moralidade, sexualidade e valores individuais.

Então? Vamos?!

Bem, pra começar, devo dizer que eu sempre fui um tanto quanto antiquado quanto a questões que envolvem sexualidade. Sempre torci o nariz para aqueles moderninhos que fazem de seus corpos verdadeiros parques de diversões. Aqueles que acham normal, por exemplo: se envolverem sexualmente com parceiros diferentes com muita frequência, principalmente, aqueles que são comprometidos e traem seus parceiros nesse processo.

Eu costumo ficar meio enjoado quando alguns dos meus amigos, aqueles mais danadinhos, me confidenciam suas historinhas de traição. Geralmente, eles fazem louvor a sua masculinidade, dizendo que fizeram isso e aquilo outro, quando suas namoradas nem imaginam o que acontece.

AVISO: Meninas não acreditem nos homens, pelo que vi até hoje, nenhum, nenhum mesmo, fala a verdade. Isso é fato!

Mas voltemos ao ponto.

Quando eu penso mais profundamente sobre moralismo sexual, eu tento chegar a um ponto onde os meus preconceitos não distorçam a “razão da questão”. Eu me pergunto se é certo julgar alguém por ter uma vida sexual agitada. Às vezes sou especialmente conservador quando analiso as mulheres, pelas quais, desenvolvi uma desconfiança mais ou menos justificável. Mas esse é outro assunto.

A questão é que: acho muito tênue a linha que divide valores individuais da intransigência. É realmente justo julgar alguém por sua conduta sexual?

Quando valores pessoais passam a cegar nossa razão, é sinal de que nossa capacidade de julgamento está de alguma forma comprometida. E é a partir daqui, que convido vocês a analisarmos esse contexto mais profundamente.

Mas antes, vamos a mais uma historinha real da vida cotidiana.

Alguns dias atrás, eu conversava com uma colega de trabalho na hora do intervalo entre as minhas aulas. Depois de algum tempo, começamos a conversar sobre viagens, eventos e coisas deste tipo. Ela acabara de voltar de um evento sobre História, que por acaso é a disciplina que eu curso na faculdade, e na qual ela é formada. Ela me dizia que a viagem foi ótima, que conheceu várias pessoas interessantes e me recomendou a fazer o mesmo. Detalhando um pouco mais suas experiências, ela começou a dizer coisas que me deixaram bastante surpreso, principalmente, porque até onde eu sabia, se tratava de uma pessoa pacata, da qual ninguém poderia esperar qualquer tipo de imprevisibilidade. Bem, resumindo, ela me disse que experimentou drogas e que teve várias relações sexuais, inclusive, com pessoas do mesmo sexo.


Bem... Vamos lá. Não é que eu ache que isso seja algo, digamos assim... Absurdo. Tirando a parte das drogas, que sou radicalmente contra, não sou contra o homossexualismo, apesar de ser hetero, mas juro que não esperava tal relato de uma pessoa, que até então, se mostrava extremamente reservada.

- Ela ainda disse coisas do tipo:
“Nunca transei tanto, era saindo de uma barraca e entrando na outra”.

- E ainda:
“Eu não teria coragem de fazer isso de novo, mas não me arrependo”.

Acho muito estranho quando alguém me diz esse tipo de coisa. Enfim, não é uma coisa legal pra se contar. Não é o tipo de coisa que devemos sair expondo com todo orgulho por aí.

Sei lá, devem haver pessoas que acham isso super normal, mas eu fico com náuseas diante deste tipo de relato.

Usei esse exemplo real, apenas para demonstrar o quanto assuntos que envolvem particularidades sexuais e conceitos sobre valores individuais - ou a ausência destes - podem nos fazer mudar de opinião a respeito alguém.

Meus valores individuais condenam comportamentos que possam ser definidos como promiscuidade. Não tem absolutamente nada a ver com o fato dela ter transado com mulheres ou homens, mas sim: com a situação, o ambiente e a quantidade.

Isso me faz pensar: até que ponto transformamos valores individuais em intransigência? Por tantos anos lutamos por liberdades, direitos de se expressar livremente; de agir conforme nossas vontades, desde que esta não atinja o bem-estar do outro. E agora nos mostramos conservadores dizendo que isto é certo e aquilo é errado. Isto pode e aquilo não.

Acredito que a postura que normalmente adotamos é algo do tipo:
“Bem não sei se isso é certo ou não, mas não quero isso pra mim”.

Pelo menos é assim que eu penso, mas ao mesmo tempo, não consigo me desfazer do nojo e do julgamento exacerbado que empreendo quando me deparo com pessoas que levam uma vida sexualmente leviana.

Admiro muito aqueles que preservam seu corpo, seu caráter, seu valores. Aqueles que primam pela qualidade em detrimento da quantidade. Mas acho que não devo julgar tanto aqueles que não são assim.

Eu imagino que com o tempo as barreiras que envolvem as questões do moralismo sexual se tornarão cada vez mais frágeis, e que, muito do que julgamos hoje, se tornará irrelevante na próxima geração.

A promiscuidade é uma definição dura quando dirigida a alguém. Que subtrai o valor de quem a recebe, mas acho cada vez mais difícil estabelecer um parâmetro do que é promiscuidade, do que torna as pessoas promiscuas. Será quantidade de relações sexuais? Atitudes sexuais especificas? Situações ou ambientes onde praticamos sexo? Enfim, enquanto isto não fica claro, tentarei não olhar tão torto para as “periguetes” da vida. Pois talvez, apenas talvez, dentro de nós não resida algo verdadeiramente mais puro do que o que julgamos aqui fora.

Eu imagino que todos nós temos nossos desejos sexuais irreveláveis. Aqueles que mantemos ocultos dentro de nossa consciência. Aqueles que preservamos para transparecermos mais “puros”. Será que somos realmente virtuosos? Ou apenas encobrimos nossos desejos para não sermos julgados pela sociedade?

Isso me leva a pensar que: querer fazer, não é tão comprometedor quanto fazer?

Será que aquelas pessoas despreocupadas, que fazem o que querem, ao invés de apenas desejarem, são menos virtuosas que nós?

Enfim, me perdoem por tantas perguntas. Irei parar de dar voltas e expor minha resolução sobre isto tudo!

Bem, pra começar, é evidente que quando o assunto é sexo, a mulher é muito mais oprimida por sua postura e atitudes do que o homem.

Ao longo da história, pode-se verificar que varias civilizações se mostraram sexualmente mais abertas do que a nossa sociedade contemporânea. Os antigos egípcios já praticavam cerimonias onde o sexo era praticado de forma natural em grandes salões com inúmeros indivíduos. Os gregos e romanos, ao que se sabe, encaravam o homossexualismo de forma muito mais natural do que encaramos hoje. E o que falar dos hindus? Eles simplesmente nos legaram o Kama sutra. Nossa sociedade, apesar de receber o estereótipo de moderninha, se revela majoritariamente conservadora, graças uma ampla influencia cristã que impõe uma doutrina rígida quanto as questões sexuais. Sendo assim, pode-se estabelecer uma relação entre a religião e a nossa postura diante do sexo.

Em muitas culturas marcadas pela forte presença da religião como agente regulador das questões morais que envolvem a sociedade, apenas a mulher é vitima de opressão quando desafia a normas acerca da sexualidade imposta por sua cultura.

Isso revela uma característica marcante sobre as religiões, todas, absolutamente todas, são machistas. E em muito, isso se deve ao patriarcalismo que regia as sociedades no processo surgimento das religiões. Logo, as normas religiosas, dentre outras finalidades, tinham o papel de assegurar o homem como figura dominante. E a mulher, era designada a submissão e a opressão da sociedade.

Uma forma bastante clara de exemplificar isto: é o livro de Gênesis, do velho testamento dobíblico, onde a estória~história de Adão e Eva, que contamos orgulhosamente para os nossos filhos é uma das formas mais severas de machismo já relatadas pela história da humanidade.

Aí você me diz:
“A cara, deixa de ser mané. Todo mundo sabe que a história de Adão e Eva é uma metáfora...”

É engraçado como tudo que é embaraçoso de se explicar na bíblia automaticamente se torna metáfora.

Então, que tal o novo testamento? O que vocês acham disso mulheres?


I Timóteo 2:11 - A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão.


I Timóteo 2:12 - E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio."

I Coríntios 11:7 - Porque, na verdade, o homem não deve cobrir a cabeça, por ser ele imagem e glória de Deus, mas a mulher é glória do homem.

I Coríntios 11:9 - Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, e sim a mulher, por causa do homem."


Obs: Os trechos acima foram muito bem esclarecidos por um leitor, o Adriano Alves, contudo os mantenho afim de possibilitar aos leitores sua própria análise. Recomendo que leiam os comentários e vejam o posicionamento daquele que foi citado.
Não é meu objetivo contestar a religiosidade de ninguém. Por favor, não me interpretem desta forma. Desejo apenas expor a influencia que o tradicionalismo religioso, pode, desempenhar na formação do caráter de uma sociedade. Como de nossa, onde alguns aspectos do cristianismo, como o patriarcalismo, colaborou para a formação de uma sociedade demasiadamente machista.

Bom, deu pra perceber com esses exemplos, que se você não quer ser vitima de opressão sexual, primeiro, não seja mulher.

Foda né?

Sem querer ser muito técnico - afinal não é esse o objetivo do meu blogue - é extremante difícil dissociar: orientação religiosa, da conduta sexual. A verdade é que nos ensinam a sermos certinhos desde pequenos. Aprendemos a nos resguardar e a nos tornarmos pessoas de bem. Pessoas que casam antes de transar e não andam se exibindo imoralmente por aí.

O problema é que, na maioria das vezes, essa pressão em torno do moralismo sexual é dirigido apenas as mulheres.

Essa obstinação pela pureza imposta pelas “famílias de bem”, acaba nos tornando fingidores. Nos tornamos pessoas que odeiam estar na boca do povo, mas adoramos fazer o que nos faz cair nela.

A opressão da sociedade frente às pessoas que podem ser definidas como promíscuas, possui uma natureza dúbia. De um lado, oprimimos todos que apontamos como vulgares ou promíscuos. Do outro, nos vemos em uma situação onde faríamos muito do que julgamos se não fossemos julgados.

Não quero dizer com isso, que devemos "soltar a franga" e sair comendo ou dando a todo mundo despreocupadamente. Mas sim, que devemos ponderar sobre o motivos que nos levam ao julgamento e ao preconceito, o que implica em refletir sobre: porque oprimimos aqueles nos quais em suas situações poderemos nos encontrar um dia? Sejam sábios, reconheçam suas limitações e preconceitos. Isto por si só já ajuda muito.

Bem, é isso. Obviamente não fui ao fundo da questão, mas também nem era esse o proposito, então gostaria que vocês expressassem suas opiniões, enriquecido o texto e me ajudando a articular melhor a minha visão sobre o tema. Pra isso basta apenas comentar.

Cheers!!

8 comentários:

Adriano Alves disse...

Um texto muito justo, parabéns, mas houve uma injustiça com o Livro que trato de esclarecer.

Se a questão é o preconceito contra a mulher, tenha certeza que a Bíblia passou por cima dos preconceitos de uma época onde se discutia se mulher tinha ou não alma, e onde a declaração de bens do cidadão constava o número de suas mulheres. Israel foi governado pela Juíza Débora durante longos anos e com estabilidade e prosperidade. Faz 122 anos que o Brasil deixou de ter a primeira chefe de estado mulher, a Princesa Isabel, entre diversos motivos, também foi por preconceito. E o reboliço que foi pela eleição da Dilma. À Milhares de anos, isto foi possível em Israel. E o que dizer de outras ilustres menções, que faltar-me ia espaço para mencioná-las. E o tratamento de nosso mestre Jesus as mulheres, abrindo um precedente na história, possibilitando tantas conquistas as mulheres como vemos. É no mínimo desconhecimento, falar que tem acepção por sexo da pessoa na Bíblia.Na mesma carta primeira aos Coríntios 11,5 é reconhecido por Paulo que mulheres orem e profetizem em voz alta na Igreja, desde que respeitando um costume local de usar o véu, já que mulheres sem véu e com cabelo cortado eram as prostitutas daquela cidade portuária. E a Igreja não lograria credibilidade se não mantivessem os costumes. Da mesma forma Paulo está censurando uma desordem própria das famílias de Corinto. Os cristãos desta cidade eram arrogantes, encrenqueiros e estavam em discrepância com as demais congregações. Por várias vezes Paulo chama Corinto a racionalidade de: “nós e as Igrejas de Deus não temos tal costume.” Eles eram desorganizados desde o culto litúrgico, passando pelo uso dos dons espirituais, crises de liderança, disputas... e agora Paulo está falando com relação as mulheres, que igualmente eram alvoroçadeiras. Se Paulo estivesse proibindo as mulheres de falar no capítulo 14, porque considerou isto legítimo no capítulo 11? Claro, só na cabeça de gente com idéias pré-concebidas. Paulo estava incomodado com o barulho das mulheres no trato com seus filhos, maridos e outras fontes de conversas nas reuniões solenes. Na Ásia as mulheres sentavam-se separadas dos maridos, e não sentiam a solenidade das reuniões quando interpelavam seus maridos sentados do outro lado do recinto a respeito de qualquer assunto. Convenhamos, poucas coisas causam mais confusão e interrupção da paz do que o burburinho que vem da seção das mulheres, e pelo jeito em Corinto, Paulo um pregador não tão eloqüente perdia até o raciocínio em suas longas preleções. O verbo usado é “lalein” usado de forma geral para falar, sem conotação com o falar oficial na Igreja. Então Paulo não está proibindo mulher de pregar, cantar, profetizar ou exercer qualquer ofício na igreja. Está de uma vez por todas pedindo silencio, que resolvam suas diferenças em casa. Mais ou menos assim, quando um burro fala, o outro abaixa a orelha. Em nenhum outro livro da época encontramos tanto reconhecimento as mulheres como na Bíblia. Valeu.

Adriano Alves

D. Novaes disse...

Muito bom Adriano, excelente esclarecimento. Reconheço que alguns dos trechos citados ficaram um tanto quanto fora de contexto, e de certa forma, deram uma impressão generativa em relação ao texto de Paulo, que tenho certeza, você deve conhecer com muito mais propriedade que eu. Sou estudante de História e meus interesses diante dessa ciência não enveredam pelo caminho da teologia, embora eu goste de avaliar os impactos das religiões no desenvolvimento cultural e econômico das sociedades, não sou um grande conhecedor da Bíblia.

Quanto a Bíblia ser um livro que naquele contexto histórico se apresentava como o mais justo em ralação as mulheres, acredito que temos um grande paradoxo. E esse paradoxo diz respeito ao próprio cristianismo. Sendo assim, tomarei a liberdade de tentar demonstrar por que.

Comecemos então.

A afirmativa de que, nas declarações de bens dos cidadãos poderia constar a quantidade de mulheres que eles tinham é bastante curiosa. Estamos falando da Bíblia inteira, ou apenas do novo testamente? Pois se estivermos falando de todo o contexto histórico no qual a Bíblia se insere, poderemos estabelecer um pequeno revés. Afirmo isso, porque não é raro encontrarmos exemplos de grandes personagens bíblicos que tiveram mais que uma mulher ao mesmo tempo, a exemplo do grande Rei Salomão, que especula-se que teve mais de mil amentes.

Então, a Bíblia passando por cima do machismo ou não, não muda o fato de que em sua síntese, não observamos uma constante a respeito dessa dita benevolência em relação ao sexo feminino. Para comprovar isso, basta apenas observamos os diversos casos de opressão, deserção, apedrejamentos e mortes praticados contra mulheres ao longo do Livro. Acepção do sexo feminino que acuso dentro do contexto bíblico, e que foi descrita como falta de conhecimento, se revela quando comprovamos que os homens "daquela época" não tinham punições tão severas quanto às mulheres no que se diz respeito a diversas questões, principalmente em ralação a questões sexuais. O que é uma realidade ainda hoje. Então pode-se dizer, que o machismo era, sim, um retrato social daquela época, mas era um retrato delineado através de uma religião. Assim como é o caso do mundo árabe hoje.

E acho que nem devemos citar o Sec. XII, assim como toda a idade média, onde O Santo Oficio da Inquisição, legitimado pela Igreja Católica, mostrou sua benevolência, piedade, perdão e amor ao próximo, a toda sorte indivíduos que praticavam alguma espécie de livre-pensamento, especialmente mulheres, que constantemente eram condenadas por bruxaria. E aqui, já estamos vivendo sob ‘edge’ do novo testamente, dito mais benevolente.

D. Novaes disse...

Certamente a história de Débora pode ser descrita como um grande exemplo das conquistas angariadas pelo sexo feminino ao longo da história, mas é preciso salientar, que sua realização foi à exceção, e não a regra daquele tempo, tanto, que mesmo ela não logrou a aprovação de grande parte de seu povo. E honestamente, neste caso, não vejo porque estabelecer uma relação entre a situação política do mundo ocidental contemporânea (Dilma), como a realidade de uma época descrida pela Bíblia, da qual não se tem nenhum vestígio arqueológico conhecido que comprove sua existência. Para esse propósito, de exemplificar ascensão política e social de mulheres na antiguidade, poderíamos usar contextos muito mais universais, como por exemplo: Cleópatra, talvez a maior monarca da história, e que nada tinha haver com o cristianismo.

Por ultimo, e acredito eu, mais importante, temos Hipátia, com certeza uma das mulheres mais importantes da história. Se não em sua totalidade, mas pelo menos no que se diz respeito a um exemplo de independência, força e amor ao livre-pensamento, tão importante na edificação do individuo. Confesso que conservo uma paixão platônica por ela. Bem, além de todos esses méritos, Hipátia era pagã, e trabalhava numa biblioteca em Alexandria no Sec. III DC. Como dito, foi uma das primeiras mulheres a defender o livre-pensamento e se interessar em entender o Universo de forma científica. Apesar de ser muito inteligente, me parecer que ela não tinha muita sorte, pois viveu em um período onde o cristianismo se espalhava de maneira muito rápida, intolerante e violenta. Logo, devido aos seus estudos, e por uma série de disputas políticas, ela foi acusada de bruxaria; apedrejada e destrinchada até os ossos com pedras por fanáticos religiosos. A biblioteca que ela cuidara por mais de 20 anos foi queimada e muitas das obras mais importantes da história perdidas. Bem, como visto, Hipátia é um grande exemplo de pioneirismo em ralação a um sexo feminino GENUINAMENTE LIVRE, e mais uma vez, não tinha nada haver com cristianismo.

Eu acredito que um livro que é encarado como um guia social, cultural, moral e espiritual por seus fieis, e que é interpretado maneira LITERAL por muitos, deveria ter mais que um punhado de referencias no que se diz respeito à igualdade de direitos entre os gêneros. Não estamos falando de valorizar, e sim, de igualar, que o certo. Mas, se encaramos esse Livro como algo que deveria regular a sociedade de outrora, não a nossa, não haverá motivos para debates. O problema é que não está funcionando assim. As incoerências dos textos vão sendo substituídas por: “interpretações” que se modificam à medida que a sociedade não consegue mais se ajustar a elas.

Um exemplo foi a ultima perola do Bento XVI, que disse:
“Deus criou o Big Bang”

O que posso dizer sobre isso?
Pouco tempo atrás queimavam na fogueira aqueles que diziam que a Terra era redonda.

Então, por tudo isso, acho muito difícil conceber a evolução da mulher na sociedade baseado na Bíblia. Ou toda essa benevolência supracitada. A história me mostra uma realidade muito diferente, que tem muito mais haver com fogueiras e forcas, do que com mulheres de períodos históricos pouco conhecidos governando cidades.

Quanto eu estudo a evolução do sexo feminino ao longo da história, eu pesquiso livros, não Livro. Pesquiso autores ao Invés de personagens. Por isso, não sinto que a religião ou Jesus, tenha verdadeiramente contribuído para a ascensão da mulher na sociedade, embora concorde com os exemplos que você citou. Mas esse é um longo debate.

Muito obrigado pela leitura e pelo seu comentário. Não encare esse comentário como uma replica ao seu, pois não é. Apenas aproveitei a deixa, para escrever sobre algo que desejava há muito tempo.

Adriano Alves disse...

Mulher na Bíblia – Resposta a Crítica.

Se me permitir falar mais sobre este interessante assunto, tenho mais algumas considerações. Ou muitas.
Porque paradoxo? De qual outro livro podemos extrair tanta moderação naquela época? Seriam as narrações dos abusos dos homens daquela época? Paradoxo seria se a Bíblia omitisse as terríveis injustiças, que factualmente, aconteceram.
A revelação de Deus através do Livro é progressiva, começando por Abrão o Caldeu vem se desenrolando e moderando aqueles povos primitivos até chegar à plenitude dos tempos, quando se revela plenamente em Cristo. É um período de aproximadamente 1500 anos. A Bíblia nunca omitiu as barbaridades que o homem fez ou faz, seria um falso moralismo. Também não podemos exigir que povos de 3500 atrás tenham a evolução social de hoje, nunca foi este o papel da Bíblia. As leis mosaicas, por exemplo, eram as mais justas e brandas da época, no entanto, moderava práticas arraigadas no seio da sociedade, como a escravidão. Contudo, o leitor apressado, não deve pensar que há aqui uma defesa da escravidão, mas uma moderação do que já existia, encontramos limites para uma prática enrustida na alma do povo. Se um indivíduo se endividasse, pagaria com a própria vida se tornando escravo. Mas o escravo tinha um valor fixo a se considerar o ano da remissão, quanto mais perto deste ano, mais caia o seu valor como escravo. Vencido o período saia livre. Encontramos uma série de leis e recomendações a respeito do relacionamento escravo e senhor, ambos ressaltando o tratamento humano e digno aos escravos e o respeito ás leis e ao proprietário. Onde existe maior civilidade, em uma lei de 3500 atrás ou à 122 anos atrás? Na escravidão do Brasil, primeiro o indivíduo se tornava escravo por ser considerado bárbaro e sarraceno pelo Papa, depois o negócio ficou lucrativo em cima da raça negra, ou seja, para ser escravo bastava ter um perfil, a cor da pele. Trabalhavam a vida inteira em condições indignas, como animais. E por fim a Casa de Bragança perdeu o trono quando conseguiu aprovar a lei áurea no parlamento. A Bíblia não está fazendo apologia à escravidão, e da mesma forma nunca fez apologia à poligamia, apenas moderou a prática. Todo texto deve ser contextualizado. A Bíblia está moderando uma situação existente e fortemente enraizada na cultura dos povos. Quando vou fazer uma crítica de um livro, não fico procurando textos provas de uma idéia que já pré-concebi. Primeiro leio o livro inteiro, depois descubro sua mensagem áurea, seu propósito, A EVOLUÇÃO DE UM TEMA...

Adriano Alves disse...

Até o fim do Império o Brasil foi a segunda maior democracia do mundo, votavam mais de 8% da população. Esse número caiu pra pouco mais que 2% na república. Mas as mulheres não votavam. Não estou falando de 3500 A.C, mas de 1934, ano em que se reconheceu a capacidade da mulher de votar no Brasil. Agora o que dizer de milênios atrás? Quando a Bíblia narra as relações de autoridade da época, reconhece que para aquela cultura, o testemunho feminino não tinha valor algum, nem jurídico. E como alcançar estes cidadãos com um testemunho que de antemão não teria valor. Se a Bíblia instigasse o preconceito não citaria tão honrosamente ilustres mulheres da Igreja Primitiva. “A nossa irmã Febe, diaconisa (diákonos) da igreja de Cencreas” que reunia a comunidade em sua casa. O livro de Atos fala de muitas conversões, de homens e mulheres de todas as classes sociais incluindo escravos, destacando, “senhoras das mais distintas”. At 16.14 fala da casa de Lídia, vendedora de púrpura), verdadeiras “igrejas domésticas”.
Paulo usa para elas o termo grego diákonos, tal como aplica a si próprio essa palavra quando defendia a sua autoridade (2Cor 3,6; 6,4) ou mencionava os seus títulos de honra (2Cor 11,21-23).
Tratava mulheres como “nossa irmã”, o que não é simplesmente uma expressão de fraternidade, mas um título particular para os que ocupavam um lugar especial na comunidade, como colaboradores diretos dos apóstolos. Este título foi usado, por exemplo, com Timóteo (2 Cor 1.1; Flm 1) e Sóstenes (1 Cor 1.1).
“Prisca e Áquila, meus colaboradores em Cristo Jesus”.
Este casal é muitas vezes citado (At 18,2; 18,18.26;1Cor 16,19-20; 2Tim 4.19), mas o mais interessante é que aqui quem vem em primeiro lugar é a mulher Prisca (ou Priscila como aparece noutras passagens). Maria, Trifena e Trifosa e Pérside.
Estas quatro mulheres têm em comum a utilização por Paulo de um verbo técnico – kopiao – com o qual ele caracteriza o seu próprio trabalho missionário e apostólico (1Cor 15,10; Gal 4,11; Fil 2,16; Col 1,29) e que aplica a outros missionários (1Cor 116,16; 1Tes 5,12; 1Tim 5,17). O curioso é que este verbo é sempre aplicado a coletivos, exceto aqui que é aplicado a cada uma desta mulheres.
“Andrónico e Júnia, que são apóstolos insignes”
A dificuldade que colocava o fato de uma mulher, "Júnia", ser “apóstolo” nos séculos posteriores levou o catolicismo converter a mulher “Júnia” no homem “Junias”. Passo a citar R. Aguirre: “Rapidamente o preconceito androcêntrico considerou intolerável que se chamasse apóstolo a uma mulher e os comentaristas freqüentemente converteram Júnia num homem, o que não é sustentável. Outras vezes, quando aceitavam que se tratava de uma mulher, diziam que é apóstolo, mas ‘em sentido amplo’”.
Como se vê, aqui, as mulheres, em vez de serem discriminadas e apesar das pressões culturais da sua época, na prática tinham amplas possibilidades de intervir na Igreja a todos os níveis e o seu empenho e esforço eram não só reconhecido como foram recordadas por Paulo com todo carinho. Como negar estes efeitos em nossa cultura ocidental-judaico-cristã?
O machismo era sim um retrato social da época, mas jamais por força de leis injustas.

Adriano Alves disse...

Quanto ao catolicismo, não representa nem de longe a mensagem cristã, antes perseguiu não só as mulheres, mas também as genuínas igrejas cristãs que se reuniram clandestinamente desde o Imperador Teodósio e por toda a idade média.
A autenticidade da Bíblia, por mais que tentaram, jamais conseguiram desacreditar. A Bíblia é mais confiável do que qualquer outro livro da antiguidade, seja arqueológica, científica, literária ou historicamente.
Penso que há exageros nesta idéia de igualitarismo dos sexos. Muita coisa boa está se perdendo por causa disto, tanto mulheres como homens. E devemos reconhecer de forma voluptuosa essas diferenças. Não me refiro a direitos civis, e a Bíblia também não. Não havia direitos civis descentes para ninguém, homens ou mulheres, estavam debaixo do mesmo sol. Não havia o que igualar. O Livro trata de outro tema, a revelação progressiva de Deus a humanidade.
A Bíblia diz que a terra é redonda em Isaías 40.22. Os gregos criam que Atlas carregava o mundo nas costas. Os Hindus acreditavam que quatro elefantes sustentavam a terra. Os Egípcios, nos tempos de Moisés (3500 anos atrás), acreditavam que o mundo havia sido chocado de um grande ovo que possuía asas e voava. Estes são os povos mais sábios da época. Mas a Bíblia já dizia “Ele (Deus) estende os céus do norte sobre o vazio e SUSPENDE A TERRA SOBRE O NADA” Jó 26.7. Quem revelou há mais de 3000 anos, que existe o vácuo, o vazio na terra? O barômetro é um instrumento usado para medir a pressão atmosférica (peso do vento). Ele foi inventado só em 1643, pelo físico italiano Evangelista Torricelli (1608-1647). Antes dele, ninguém se atreveria a afirmar que o vento tem peso. Entretanto a Bíblia se antecipou á ciência uns 3000 anos, dizendo que o vento tem peso: “Quando (Deus) REGULOU O PESO DO VENTO e fixou a medida das águas.” Jó 28.25.
A descoberta do Big Bang foi o maior tapa na cara dos ateus jactanciosos que apregoavam a eternidade do universo. Se o universo teve um início, então necessariamente teve uma causa. Esta causa tem que ser atemporal, pois o tempo ainda não existia. Tem que ser transcendente, pois o espaço não existia. Tem que ser eterna, pois tinha que preexistir antes do episódio que deu início a origem da existência. A que nome vai chamar esta causa? Um Designer Inteligente com certeza. A Bíblia o chama de Elhoym, Deus.
Quanto aos livros, continuemos a estudá-los. Meu único objetivo desde o início foi defender o Livro e não desestimular o estudo dos livros. Muitas injustiças se comentam contra o Livro nos recintos de teorias enlatadas onde se buscam os canudos depois de 4 ou 5 anos. Mas como todos nós temos que ter esses canudos, estou dividido entre escolher 2 entre 4: Filosofia, História, Teologia e Administração.
Até mais.

D. Novaes disse...

Mais uma vez, muito bom. Adorei seu comentário. Você obviamente tem conhecimento de causa, mas obviamente eu não compartilho de suas crenças.

O paradoxo ao qual que me refiro, diz respeito ao fato de que, ao mesmo tempo em que encontramos passagens que enaltecem a figura feminina na bíblia, encontramos também episódios de fundamentalismo extremo. Sinto se o termo ficou inadequado a minha colocação. Não desejo subestimar o valor da Bíblia como uma obra importante para o propósito supracitado. Meu objetivo é apontar a inadequação desse livro quanto a questões envolvem problemas sociais modernos. Como citei anteriormente, a interpretação literal desse livro, já deu “pano pra manga” para muitas barbaridades. Talvez não para você, que aposto ter discernimento e bom senso quanto suas interpretações.

Quanto a um design inteligente (criador) e ao Big Bang, que você afirma ter sido um “tapa na cara” dos ateus - grupo do qual faço parte -, precisamos analisar esse contexto mais profundamente. Existe um argumento amplamente aceito pela comunidade cientifica que foi apresentado pelo Dr. Richard Dawkins, em seu livro O Relojoeiro Cego, onde ele critica a Analogia do Relojoeiro citado por William Paley, um famoso critico da idéia de evolução por seleção natural. Paley, afirma que nada tão complexo como o ser humano pode surgir do nada. O olho humano, complexo em sua natureza e funcionalidade, seria segundo Paley, a prova definitiva de um criador e de um designe inteligente. Paley cita um relógio como algo engenhoso e complexo, estabelecendo assim, que para existência de algo tão complexo seria necessário um design, um relojoeiro, ou no caso, um criador. Em suma, o argumento central de Paley é que nada complexo pode surgir do nada.

O problema é que, como Dawkins afirma, a analogia do relojoeiro implica é um grande problema, o quão complexo seria esse criador? Se algo complexo não pode simplesmente surgir, isso implica em dizer que Deus não pode simplesmente existir, porque seria necessário que algo mais complexo do que ele existisse, e o criasse, gerando um ciclo infinito de criadores. Defensores do criacionismo afirmam que Deus não está submetido a esta lógica, então infelizmente, quando um argumento foge a razão e aos fatos e tende a ser sustentado em crenças e arbitrariedades intuitivas o debate não pode mais ocorrer (Não que esse seja seu caso, não é).

D. Novaes disse...

Como visto, e isso digo com extrema propriedade, o Big bang está longe de ser um embaraço para os ateus ou a para comunidade cientifica. Muito pelo contrário, acho que é muito mais difícil para os críticos da teoria da evolução e de um mundo secular, sustentarem a idéia de um mundo criado por volta de 6000 mil anos atrás, descartando: dinossauros, surgimento de combustíveis fosseis, deslocamento continental, evolução de espécies, evolução hominídea e uma infinidade de outros fatores que tornam a idéia de um Deus descrito pela bíblia no mínimo contraditória. E nesse caso, infelizmente, não da apenas para dizer que Deus criou o Big bang e permitiu que as espécies evoluíssem. Como superaríamos essa incoerência? Iríamos ignorar o trabalho de tantos criacionistas celebres que lutam para subjugar as afirmações de Darwin? Iríamos rasgar as paginas do livro de gêneses? Ou reescrevê-las?

Finalizando, imaginemos uma situação onde a teoria do Big Bang nunca tivesse sido formulada, e as pessoas nunca tivessem questionado a idéia de um criador, ou Adão e Eva e etc. Ainda sim reinterpretaríamos a bíblia tentando adequá-la a essas afirmações? Ainda sim diríamos que Deus criou o Big Bang? Tenho a ligeira impressão de que não. Sem questionamentos as pessoas simplesmente aceitariam. Quanto à idéia preconcebida, eu fico me perguntado, o que não seria uma idéia preconcebida? Conheço muitos críticos da teoria da evolução que nunca leram Darwin ou Dawkins ou Hawking. Eu te juro que ficaria feliz em acreditar em um criador, céu e inferno, desde que me apresentem evidencias persuasivas para isso. Afinal, se me afirmam que existem unicórnios invisíveis dentro de uma caixa, e eu a abro e não vejo nada, e me acusam dizendo que não tenho fé o suficiente para vê-los, acredito que quem afirma isso é que tem que provar, não o contrario, pois o mundo já existia antes dos Hebreus criarem o monoteísmo. Se o que trás credibilidade a Bíblia for sua idade, e se o que torna a cristianismo incontestável for à fé, poderemos respectivamente acreditar que existem ciclopes e minotauros numa ilha grega (Livro Ilíada), e adoraremos: Thor, Odin, Zeus, Ganesha, Shiva, Buda, Thanatos, Adremmelech, todos esses frutos de mitologias, com riquíssimas referencias literárias, mas que estranhamente, ou não, são encaradas como devaneios de civilizações pagãs.

Muito obrigado por esse debate Paulo, você é muitíssimo inteligente. De Longe seus comentários são os melhores deste blog de quinta. Sinta-se à-vontade para quaisquer considerações. Até mais.