Olá,
hoje trarei um texto não tão bem humorado, e conseqüentemente talvez também não
tão atrativo.Um
texto motivado por um dia estranho, concebido em meio a sensações estranhas.
Neste dia que escrevo me sinto um tanto quanto deslocado. Um tanto quanto
confuso. E é sobre essas sensações que irei escrever hoje.
Para
entender como me sinto (se é que isso é relevante) e para entender também o significado
desse texto, é preciso antes entender o termo que dá titulo a este
artigo: PENUMBRA...
Esse
termo é a analogia mais aproximada que encontro para elucidar meus sentimentos, pois diferentemente
da sombra, a penumbra trata-se de um ponto de transição entre a luz e a sombra.
Imagine um corpo sendo iluminado por uma fonte de luz extensa, ou seja, não
puntiforme. Desse acontecimento teremos regiões que não serão atingidas pelos
raios luminosos, são as sombras, e regiões que serão atingidas por apenas
alguns raios de luz, essa é a região de penumbra. O meio termo entre a luz e as
trevas, O CINZA. Algo complexo de ser definido ou analisado. Algo inconstante.
Tenho me tornado penumbra, não pela minha própria natureza, mas em função da
natureza a qual tenho sido exposto.
Então
vamos aos motivos que creio que tenham me levado até esse tema.
Como
eu disse, hoje foi um dia estranho. Hoje senti calafrios. Fiquei tonto. Minha
boca ficou salivando como se eu estivesse me preparando para vomitar. Fiquei desorientado, como quando na única vez que desmaiei. Logo percebi que esses sintomas não
tinham nenhuma causa externa, ou melhor, pelo menos nenhuma tangível.
Conversava com alguém enquanto olhava pra baixo e pensava: “será que estou
morrendo?”. Senti vontade de correr, ou de simplesmente de dizer que estava
passando mal. Mas não tive fôlego, e esperei que a pessoa em questão percebesse
que eu não estava bem. Mas nada aconteceu. Eu não fiquei melhor, dei um tempo e
me senti bem o suficiente para sair dali. Fui andando sozinho, me dei conta que
estava sem camisa, sentei em um lugar não necessariamente adequado e comecei a
pensar. Ignorando o fato de que minha lucidez poderia ser colocada em questão,
baixei a cabeça e comecei a refletir sobre questões intrínsecas ao meu eu, e
percebi de onde vinha o meu mal estar.
Eu
percebi que eu estava divido. Percebi que eu era uma penumbra, por assim dizer,
por não conseguir me adequar ao que me era imposto. Por não fazer parte do meu
meio e por sofrer as conseqüências disso.
Existem
coisas com as quais não tenho conseguido lidar. Principalmente se tratando de
pessoas. Uma
vez ouvi que é muito difícil amar as pessoas apesar delas. Ou seja, é um
desafio amar as pessoas, sendo elas como são. E isso tem se mostrado
verdadeiro em minha vida. Tenho visto uma dualidade absurda nas ações das
pessoas que me cercam. E isso paulatinamente tem me feito perder o interesse em
lidar com essas pessoas...
Às
vezes queria conhecer as pessoas o suficiente apenas para não sentir nojo. Tenho
sentido um nojo generalizado. Um nojo tão forte que me dá náusea e que não me deixa estimulado a interagir...
Este
é um sentimento cíclico, pois já estive diante dessa mesma questão, e foi um
tempo difícil, onde me isolei o quanto pude e lastimei mais ainda. Tenho me
decepcionado com a hipocrisia que me cerca. A hipocrisia de um pai que vai a
Igreja todo o Domingo, e que no dia seguinte me pede para baixar vídeos pornográficos
com os mais altos níveis de perversão... A hipocrisia de mulheres que falam sobre
respeito e valorização, mas que vivem em função de homens que as traem e as maltratam.
Cenas abundantes de traição em meu ciclo familiar... Homens casados que
saem com mulheres e com outros homens e conseguem vincular isso a
masculinidade. Mulheres que sabem disso e se mostram omissas. Tudo aos olhos da
próxima geração. As filhas e filhos de hoje que veem nisso uma normalidade
deprimente, e que com certeza, não tardarão a repetir o mesmo...
Eu não
sou puritano. Não sou perfeito. Não tenho um guia de como ser um ser humano
limpo e integro, se é que isso tem algum significado. Mas me recuso a aceitar
nessas situações que me cercam a normalidade da natureza humana. A conformidade
de uma vida dirigida de forma hedonista. A vulgaridade de pessoas que cobram
atitudes nobres e vivem no meio da lama, em situações tão nojentas que me faz
querer vomitar...
Não
tenho conseguido separar o lado bom e o lado mau das pessoas. É triste não pode
fazer nada. Queria simplesmente ignorar isso tudo, curtir minha família e
admirar meus pais e amigos incondicionalmente. Mas não consigo, e isso me afeta.
Queria
poder subsidiar meu texto com mais exemplos, e com isso, consequentemente,
elucidar melhor a compreensão dos vocês, mas isso seria expor demais pessoas
que apesar de serem como são, ainda me fazem as querer bem...
Sinto
que não posso julgar o mundo com base em minhas premissas morais. Sinto que não
posso afastar as pessoas por constatar que nem de longe elas são perfeitas. Mas
pra variar, queria lidar com mais que um punhado de pessoas pelas quais consigo
exercitar algum tipo de admiração. E pra essas eu sempre tento deixar o melhor
de mim...
Pessoas são binômios. Vivemos em
um constante estado de conflito. Conflito entre aquilo que parece conveniente,
entre aquilo que parece correto, ou até mesmo aquilo que tenta de maneira quase
utópica conciliar as duas questões. As pessoas nos fascinem e nos
decepcionam com a mesma facilidade. Tenho me decepcionado bastante. Tenho
confiado pouco e me aberto menos ainda. Não por que eu não queira, é que a
inconstância das pessoas me desestimula a um ponto de eu não querer mais
interagir...
Nesse
ultimo ano tenho experimentado os dois lados de um vértice de luz. Hora do lado
mais bem iluminado, e que pode ser considerado o bom, outra hora, do lado mais obscuro. Puxado às vezes, outras vezes
empurrado, ou as vezes, apenas escorregando. Mas eu sei por onde seguir. Eu sempre soube
qual era o meu caminho. Embora em alguns momentos pessoas tenham me feito
desabar e duvidar daquilo que eu era, outras surgem e me mostram que eu não estou
exatamente sozinho, e que o caminho que se estende pelas sombras, apesar de mais
fácil, não rende os resultados daquele que se estende em meio penumbra. Iluminado o suficiente para que possamos apreciá-lo, mas não tão claro ao ponto de nos cegar.