domingo, setembro 02, 2012

O VAZIO




Onde NINGUÉM me vê

É exatamente aqui que me sinto desamparado,
Onde ninguém me vê.
Onde estou cativo do meu próprio eu.
Na utopia da razão emancipada,
Ou algo semelhante.

É aqui que me escondo sem esconderijo...
Onde me perco de mim mesmo quando todos tentam me achar.

É aqui onde muitas verdades nascem e morrem...
Verdades tão volúveis e efêmeras quanto podem ser.

Aqui, onde reside o vazio,
O consciente,
 O EU.
...
Tudo reside aqui,
Através de lampejos alegóricos de algo que não está exatamente acordado.
Ou dormindo...

As verdades momentâneas que transgridem os axiomas da realidade.
Verdades que me punem, me acusam e que Deus nunca iria perdoar.

Que vazio é este aqui, que nem os vivos e nem os mortos dão conta de sanar?

A quem diga que já passei dos limites,
Os limites definidos por alguém para separar os loucos dos lúcidos,
Os justos dos Injustos,
O joio do trigo...

E o que é isso que chamam de loucura?
E isso que chamam de razão?
O obscuro entre o pensar, agir e falar?
O dilema entre a mentira apropriada e a verdade assassina?
Os sonhos sonhados quando se está de olhos abertos?
Ou os sonhos sonhados por um cego?

....

Foi por isso que Nietzsche chorou...
Por estar louco,
Ou cego?
Chorou pela morte de Deus
Ou por tê-lo matado?
Chorou por estar sozinho.
Ou desamparado?

Tal como Édipo que vazou os próprios olhos...
Ou a Esfinge sem charadas vagando entre os sonhos de homens insensatos...

É aqui que me perco.
É aqui que “logo penso”.

É aqui que Deus existe e deixa de existir,
Na conveniência do medo, na controvertida razão...
Ou nas lagrimas de um filosofo.

Aqui onde a razão e a loucura são indistintas,
Onde o mundo é sem fronteiras,
Onde o pudor não existe,
E onde a vergonha me norteia...

Onde não existe céu e inferno,
Onde não há sonho que padeça,
Onde a história nasce e morre,
Onde o coração sente e dói...

Aqui são empreendidos a salvação e o milagre,
Os mistérios e as verdades,
As perguntas e as repostas...

É aqui onde à alma nasce e ela deixa de existir,
É aqui onde céticos e místicos se perdem,
Se confundem e se condenam...
Residência segura do ego e da retórica,
Do bem e do mal,
Da vida e da morte,
De Deus e do Nada,
É aqui,
Onde logo existo,
sofro,
amo,
cultivo delicado sabor do ódio e da vingança...

Aqui,
Onde desapareço sem deixar vestígios
Aqui,
no vácuo...
Entre o nada e Eu...
Tudo em um piscar de olhos.
Sem necessariamente querer,
Sem necessariamente não querer...

É aqui onde a humanidade tem apenas uma garganta,
Onde os amigos chegam e se vão,
Onde as promessas são feitas e desfeitas
Onde o amor permanece,
Mesmo quando tudo lhe faz crer que não...

Aqui é a medida de toda existência,
De toda fabula e utopia,
Do gênio e do tolo,
De todo santo e pecador,
De todo minuto e segundo,
Onde todos os círculos se completam e se desfazem,
E a divina comedia é sobre Deus e não o Diabo...

Aqui, é onde as lagrimas mais sofridas são derramadas...
Onde o silencio mais profundo grita,
E o grito mais desesperado se cala.
Aqui...
Onde Pagliacci sorri
E o medico chora.
Onde o ubermensch é o macaco,
Onde a mão amiga nunca Alcança
E o desespero transborda.
...
Catatonia constante...
De uma vida inteira sem intervalos...

Tudo aqui...
Entre o vazio e EU,
Entre um piscar de olhos...
Sem necessariamente querer,
Sem necessariamente não querer.
Apenas o vazio...

Por: D. Novaes

Nenhum comentário: